quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Ismael morreu de verdade.

Faz muitos anos que Ismael desapareceu da face da terra. Durante toda a sua vida carregou um cruel destino que estava travado nele desde a sua nascença. Filho de um casal de assassinos, nasceu num chuvoso dia numa casa de banho de uma garagem de autocarros, apenas três dias depois da morte do seu pai por overdose de heroína.
Como se não bastasse, Ismael, pobre e mal fadado, nasceu com uma maldição terrível que o iria acompanhar em todos os sofridos dias da sua vida.
Quando ainda estava no ventre de sua mãe, Ismael participou indirectamente e inocentemente em pequenos delitos praticados pela sua progenitora. Esta aproveitava-se da sua fragilizada imagem para pedir auxílio às pessoas das regiões por onde passavam. A pobre mulher convencia, através das suas mentiras, as pessoas a darem-lhes um local para dormirem e, sem que estas se apercebessem, durante a noite todas as coisas de valor desapareciam das casas tal como a “frágil” mulher grávida.
Durante dois meses limparam um conjunto de casas um pouco por todo o lado, inclusive numa pequena casa onde morava uma senhora idosa que ao ver os bens de uma vida serem roubados, rogou que aquela mulher e o seu marido sofressem com todos os males do mundo, que passassem fome, que caíssem num poço sem fundo e que acabassem por desaparecer da face da terra.
A única verdade que a velha lesada sabia é que aquela mulher transportava um ser dentro dela e que esse não deveria pagar pelas mentiras dos pais. Então criou um feitiço em que, a partir do seu nascimento, aquela pessoa não conseguiria mentir em situação alguma da sua vida. A mulher acreditava devotamente que a verdade absoluta e permanente iria fazer daquela criança um ser com um destino melhor que o dos seus país e que o poderia guiar para um caminho de felicidade.
Ismael nasceu e cedo a sua mãe morreu esquartejada num pequeno quarto de um albergue. Com apenas dois anos ficou órfão e foi parar a um lar de rapazes. Quando começou a falar as pessoas à sua volta afastavam-se dele, pois este conseguia fazer qualquer um sentir-se mal.
Ao longo dos anos, Ismael assistiu e foi vitima de abusos dentro do lar que o recebeu e quando um dia o director o questionou sobre tudo o que se passava naquele lugar, o pobre rapaz contou tudo com todas as palavras que sabia. Imediatamente foi vítima de agressões que o obrigaram a fugir para longe daquele lugar. Durante anos e anos a pobre criança caminhou pelas ruas do mundo pedindo esmolas. Ouvia e via o que de pior há no mundo e sofria por não poder mentir, nem sequer a ele próprio.
O confronto era inevitável e foram incontáveis as vezes em que o jovem era questionado pelas diversas razões inerentes à vida. Devido à sua incapacidade de falsear acontecimentos e vivencias, Ismael era constantemente vítima de agressões que o deixavam às portas da morte. A sua juventude foi sempre assim, passada entre as ruas e as alas de hospitais onde curava as feridas das verdades. Quando entrou na fase adulta, Ismael foi colocado numa ala psiquiátrica de um hospital onde lhe foi diagnosticado um estado de loucura incurável. Para qualquer médico ninguém conseguia ser tão verdadeiro como Ismael era. Tanta verdade só podia ser mentira.
Ao fim de uns tempos um silêncio instalou-se dentro dele. A sua boca não abria mais para falar coisa alguma. Ele encontrara a paz no silêncio.
Continuou a sua vida no hospital psiquiátrico e continuou a ouvir e a ver todo o tipo de coisas. Ao fim de um certo tempo, também os seus olhos se fecharam para esconder a realidade do mundo.
Um dia, e cansado daquilo tudo, Ismael conseguiu fugir e caminhou durante dias sem parar até um vale verde. Nesse vale existia uma pequena macieira a crescer o que causava uma estranha sensação de prazer naquela pessoa que viveu toda uma vida a sofrer. Serenamente ele abriu um buraco junto à pequena árvore e durante dias falou tudo o que já tinha vivido para aquele buraco. O sol levantava-se e punha-se e Ismael lamuriava toda a sua vida àquele pequeno buraco. As lágrimas caíam lá para dentro ao mesmo ritmo que as palavras. No fim ele sentiu paz… pela primeira vez na sua vida este pobre coitado sentiu paz, e essa paz deu-lhe força.
Levantou-se, tapou o buraco e caminhou até à cidade mais próxima. Quando lá chegou sentia o seu coração a bater, o sangue corria-lhe pelas veias e ele não se importava mais de ser como era. Subiu ao ponto mais alto do centro da povoação e gritou todas as verdades do mundo. Em pouco tempo fez parar toda a cidade e pôs toda a gente a escutá-lo enquanto da sua boca saíam os males do mundo. As pessoas começaram a chorar e rapidamente o foram buscar, desejando que ele se calasse. Elas não aguentavam ouvir mais e então juntaram-se os idosos aos jovens, os homens às mulheres e bateram-lhe até que a sua voz fosse quase muda e o seu coração desejasse não bater mais. Houve ainda tempo para se ouvir um sussurro baixinho proferido assim: "É fácil falar claramente quando não se vai dizer toda a verdade."


segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Postal Roubado, Amor Desencontrado "Resposta"

Meu querido Fernando,

Fico feliz por receber boas novas suas. Receio não poder ausentar-se até casa de Vossa Senhoria, pois o Senhor meu marido não me permitirá viajar sem razão para tal. Além disso encontro-me de momento de esperanças e fui aconselhada pelo Senhor Doutor Ferreira a ficar em repouso. Como sabe meu prezado Fernando a criança que nasce dentro de mim é fruto do nosso secreto amor e chamar-lhe-ei, se Deus nos conceder um rapaz, de Fernando. Tenho reflectido num plano para que os nossos lábios se encontrem unidos num futuro próximo. Tenha paciência meu adorado Fernando e confie em mim. A Condessa de Escravilheira, Senhora minha irmã está informada do nosso oculto amor e disponibilizou-nos a sua moradia de campo em Ourique para que possamos fugir das nossas entediantes vidas separadas. Aguarde informações da hora e do local para o efeito.

Sua amante na e para a eternidade,

Ofélia

O Rapaz que se chamava solidão

Há uns tempos atrás, numa noite destas, eu e a minha namorada fomos até ao centro da cidade para assistirmos a um concerto de um conhecido artista das nossas bandas. Quando chegámos instalámo-nos no centro do recinto para que pudéssemos ver e simultaneamente pudéssemos desfrutar calmamente da nossa própria companhia. O espectáculo começou e transportou-nos logo para outra dimensão onde reinava a calma e a sensação de paixão.
Por todo o lado viam-se casais de namorados agarrados a trocarem gestos de carinho, viam-se idosos cúmplices do seu amor, viam-se casais com filhos em perfeita sintonia e por fim, no centro do recinto, passando quase despercebido, o rapaz solidão olhava em volta para tudo aquilo. Numa das primeiras vezes que reparei no rapaz fiquei de certa forma incomodado, pois olhava fixamente para mim e para a minha namorada. Não liguei e voltei a olhar para o palco. Numa segunda vez que olhei voltei a encontrar o mesmo olhar e nesse momento passou-se pela cabeça soltar-lhe um daqueles típicos “para onde ‘tás a olhar?” ou “queres uma foto?” mas contive-me.
O Rapaz devia ter por volta dos 14 anos e apresentava uma fraca figura. Usava um boné encarnado e tinha uma barba mal semeada de cachopo que ainda não tem paciência para a fazer. Apesar da fraca figura mostrava ser calmo e até um certo ponto introspectivo e... talvez curioso de mais para o meu gosto. Estaria eu enganado em relação a isso?
O espectáculo continuou cada vez mais intenso com um alinhamento daqueles que junta qualquer casal de namorados, mesmo os que estão chateados, num momento dos dois e o rapaz continuava ali sozinho. Num daqueles momentos em que calha olhar para o lado, voltei a ver o rapaz a olhar em seu redor e a sua mira acabou novamente em mim e na minha namorada… Naquele momento senti a minha garganta a preparar-se para se soltar mas foi travada após uma observação mais cuidada do pobre rapaz que tentando disfarçar, limpava as lágrimas que lhe escorriam pela cara. Afinal era um miúdo que sem maldade chorava um amor de liceu, que olhava em redor procurando entender o significado do amor, procurando uma explicação para não poder estar na mesma situação, procurando uma razão para não ser correspondido. Pobre rapaz! Afinal quem nunca teve um amor de liceu? E quem nunca sofreu por isso?
Senti-me mal naquele momento porque o miúdo, e não passava de um miúdo, com a vida toda pela frente e com tanto para presenciar e aprender, estava verdadeiramente a sofrer e não tinha qualquer intenção de estar a incomodar quem quer que fosse. Queira apenas explicações e uma resolução diferente para os seus sentimentos. Queria apenas um pouco daquilo que todos os outros que ali se encontravam tinham. Pobre rapaz solidão… tinha o seu coração encharcado de lágrimas como se tratasse de papelão…

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Bancos de Jardim

Ensaio sobre a preguiça

“Sim… afinal ainda estou vivo. Já passou um tempinho desde que deixei a blogosfera para caminhar uns tempos pela vida real, para absorver experiencias e vivencias na busca da inspiração que tanto trabalho dá a encontrar.”

Bem podia começar assim este post de renascimento mas na verdade não passo de um sacana preguiçoso e desleixado na minha essência criativa que não consegue arranjar outra desculpa para tamanha ausência. Se foi notada ainda bem, era essa a intenção. Apenas queria que a minha arte fosse libertadora da minha mente e em vez disso sentia-me aprisionado a algo que só pode ter uma vida libertina.

Hoje voltei a casa por isso à festa! Vamos buscar uns cigarros e talvez algo que nos ponha turvos.

terça-feira, 19 de maio de 2009

domingo, 26 de abril de 2009

Fã do grande artista da juventude perdida

Grande amigo, irmão e aventureiro de longas caminhadas… é sem dúvida merecedor de aparecer aqui no cantinho com especial destaque.






Um sorriso de felicidade por existires nestes caminhos.

terça-feira, 24 de março de 2009

Postal Roubado, Amor Desencontrado

Querida Ofélia,

Queria-lhe dizer que cheguei bem ao meu destino. Aproveito o telegrama para a informar que já falei com a Senhora Dona Emília aquando da sua visita e que o quarto de hóspedes estará à sua disposição na altura da primavera.
A senhora sabe que desejo muito a sua visita e que o meu coração vai palpitando até chegar o dia em que os nossos olhos se encontrarão de novo. A semana que passei com a senhora foi extraordinária.
No último dia no jardim desejei beijá-la da mesma forma como tínhamos feito todas as noites junto à fonte mas a presença do Senhor seu marido tornou impeditivo esse meu acto cobiçado.

Com um beijo cavalheiresco de despedida, e sofrendo a dor do amor, cá a espero em breve para que possamos tomar um chá junto às portas de Avis.

Sempre seu,

Fernando



Berenice
My hands and feet are worn
As much as yours are
And though my head, my hands, my heart are forming
They still feel worlds apart...

Cafeína

Sorriste para mim e sem demora convidaste-me para um café. O que não sabias era que eu era intolerante à cafeína.
Contei-te de um jeito quase infantil que não poderia aceitar pois a cafeína faz-me sofrer do coração e ele já não está habituado a caminhos cruzados entre chávenas com borras e colheres maleáveis. Agora bebo em copo cheio algo que não me amarga, que não me faz sofrer do coração.

Mr. Curiosity

domingo, 15 de março de 2009

Dias de Felicidade

Nos dias que correm nem sempre sei dar valor a certas coisas que só por si têm um valor inigualável. Esta semana foi marcante para mim, pois percebi que o tempo não faz pausas, e que devo valorizar e demonstrar o amor que sinto por determinadas pessoas essenciais à minha existência.
Sinto o tempo a passar e por vezes esqueço-me de esticar a mão e de demonstrar alguns sentimentos, não por não os sentir mas por crer que sou dono do tempo.

6/3 – 13/3 – Um beijo enorme de carinho e respeito à minha família e em especial para aqueles que mais amo… os meus pais.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Sent(e)i e escrevi

Ao lado do meu amor lembrei-me de escrever aqui um novo post. Enquanto ela me dizia que o meu ombro fazia barulho, eu pensava no meu intimo do quanto realmente e verdadeiramente gostava dela. É verdade e está patente no meu sorriso do quanto fantástico é partilhar este post, acompanhado por um belo copo de vinho tinto enquanto ela olha para mim e me dá um daqueles sorrisos que me deixam completo. É bonito voltar a encontrar o amor, e melhor ainda é quando sabemos que esse é o ponto de partida para um caminho de felicidade a dois.

Vamos sorrir juntos porque assim a vida tem mais sentido.

Adoro-te

Saudades do Verão

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Hate to Say I Told You So

"Foda-se meu! Eu avisei-te e tu nunca, mas nunca me dás ouvidos!"

"Morreste-me"

Em primeiro lugar quero pedir desculpa aos fiéis e verdadeiros seguidores aqui do cantinho pela minha já notada ausência mas outros compromissos de maior importância surgiram. Já vamos a meio de Fevereiro e o ano continua a correr com magia e fascínio. Tudo corre pelas mil maravilhas.
Estes meses iniciais têm trazido bastantes surpresas e um novo fôlego ao “caminho”.

Em fases de mudança damos por nós, por vezes a pensar no passado e apercebemo-nos, que por fim, há coisas que estão completamente encerradas. O sentimento de que algo nos “morreu” num sentido figurado é, inesperadamente óptima (alguns não compreenderão) e verdadeiramente libertadora.
Como em tudo, também no indivíduo, os acontecimentos são giratórios e regeneradores e quando algo nos morre, acabamos por ver algo nascer de uma forma mais harmoniosa, com uma força que nos agarra a nós próprios e que nos faz não ver( porque qualquer um vê) mas sim apreciar o encanto das sinfonias do dia-a-dia.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Batalhoz das Paixões Natalicias

Quando andava no secundário era tradição eu e um amigo meu ficarmos na escola até que já fosse noite cerrada. Gostávamos da sensação de sermos os últimos a sair daquele sítio e de podermos lá estar de noite a tocar algumas malhas e a conversar. Enquanto vagueávamos pelos corredores vazios, curtindo o silêncio que só era possível aquela hora, pensávamos cada um para seu lado nos nossos amores. Éramos os dois da mesma turma e tínhamos uma grande paixão por duas colegas de turma. Eu com uma miúda de aparelho e caracóis loiros e ele por uma miúda magra e morena.
Lembro-me especialmente de uma noite que ficámos, como de costume, até mais tarde na escola e de estarmos sentados os dois num banco que ficava em frente ao aquário a lamentarmo-nos da pouca sorte ao amor que tínhamos. Ficávamos ali a pensar, enquanto o meu colega criava na sua guitarra algumas músicas que escrevia para a amada.
Ao fim de umas horas saímos de lá com um sentimento de nostalgia fantástico e descíamos a rua toda enfeitada devido à época natalícia enquanto continuávamos as lamurias. Adorávamos a magia daquela rua! Era, sem sombra para duvidas, mágica e cumplice dos nossos pensamentos.
Era triste e desmotivante mas no fim de contas parecíamos gostar daquela sensação de aperto no coração que os amores improváveis nos davam porque, afinal de contas, eramos apenas dois adolescentes que queriam ter mais em que pensar do que em cafés e televisão.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Nada é impossivel

Hoje, enquanto via uns clips no youtube descobri a história de Tony Melendez. Este senhor é mais um exemplo de que nada é impossível e que com força de vontade, esperança e fé em algo, nem que seja em nós próprios, conseguimos realizar todos os nossos sonhos e objectivos.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Vida de Professor

As semelhanças com a realidade são puras coincidências.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Verão 1998

Eram dias longos e bonitos de amizade verdadeira… A seguir ao almoço juntávamo-nos todos na minha casa para passarmos a tarde a jogar ao maravilhoso e apaixonante FIFA WORLD CUP FRANCE 98. Através da janela do meu quarto ligava umas quantas fichas triplas para poder ter a televisão e a playstation no quintal e sentávamo-nos nas espreguiçadeiras em tronco nu a jogar incansavelmente e a sonhar com toda a magia do futebol.
Eram tardes cheias de alegria e de muito vicio que só paravam quando chegava a hora do lanche. A pausa era curta porque o pequeno televisor chamava por nós.
Quando chegava o fim da tarde lá descansávamos os olhos, deitados nas cadeiras a conversar. Muitas das vezes jantávamos juntos na pequena mesa do quintal e trocávamos sonhos de criança. Dizíamos muitas vezes que “em 2005 vou estar a trabalhar num banco” ou “em 2010 vou ser pai” e até “quando tiver 22 anos vou-me casar com a Cátia Mila” (LOLOL). Sonhos que passaram a histórias e que se tornaram recordações.
Aproveitávamos os jantares para ver o por do sol e algumas vezes, se estivesse calor, ainda levávamos um banho de mangueira que a minha mãe fazia questão de nos prendar.
A acompanhar aqueles dias todos estava uma coluna da aparelhagem a passar as músicas que davam na rádio. Lembro-me bastante bem de uma que estava na moda na altura e que ainda hoje gosto bastante.



Eram dias em que os nossos dedos saíam praticamente feridos mas as nossas almas saíam extasiadas.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Something New

Há uns dias atrás encontrei-me com um amigo e contei-lhe algumas novidades sobre mim que pensei que ele ia gostar de saber. Eu estava visivelmente feliz e tinha finalmente ultrapassado vários bloqueios que me estavam a fazer dar passos mais pequenos do que realmente devia ou merecia, e queria partilhar isso com alguém de confiança.
O novo ano quando chegou trouxe-me várias coisas boas pelas quais eu não esperava e como foram tão repentinas, ainda não tinha tido tempo para falar sobre elas a praticamente ninguém.
Após os meus felizes desabafos, o meu colega, surpreendentemente, reagiu de uma forma que foi para mim, no mínimo estranha. Disse-me que eu já não acreditava num projecto do passado, que estava a falhar perante os meus princípios e perante a minha palavra. Apesar de ele não ter razão, compreendo bem o que ele quis dizer, mas o que ele não entendeu foi que eu estava a caminhar por uma nova estrada, com uma paisagem bem mais bonita, com um destino que me poderá fazer feliz e com um propósito que me dará força e fôlego para ver para além de simples recordações. Afinal não compreendo qual será o prazer de estagnar e permanecer, com gosto, no mesmo local, perante os mesmos pensamentos e as mesmas imagens sem ter a ambição de procurar algo melhor.
A verdade é que procurei e encontrei. Mesmo o que não procurei veio ao meu encontro.
Agora estou bem porque acreditei que assim poderia estar. Não tive medo da mudança e acabei por receber os benefícios da esperança.
Não devemos ter medo dos caminhos que ainda não percorremos e devemos sempre dar uma oportunidade aos mesmos, pois não sabemos até que ponto eles poderão ser proveitosos para a nossa pessoa.
Desafiar o desconhecido pode ser tão tentador como descobrir um novo entardecer, um novo dia ou uma nova vida.

“Mais vale procurar a felicidade mesmo sabendo que ela pode demorar do que ficar sentado sem reacção no banco da tristeza.”

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

"Sapateando"

Ele era um singelo par de ténis de cor verde viva que revelava um estilo de vida rebelde e vivido. Gostava de caminhar pelas ruas do mundo e não perdia uma oportunidade para se divertir.
Ela era um bonito par de sapatos de salto alto que demonstrava uma vida bem mais calma e organizada. Passava o dia em reuniões mas ansiava pelo fim-de-semana para poder dançar até o dia nascer.
Um dia encontraram-se por acaso e caminharam juntos até que a tarde se foi e aproveitaram aqueles momentos para se conhecerem melhor e, também, para verem o que de mais belo existia um no outro apesar das diferenças patentes. Nessa noite dançaram juntos grandes músicas de rock e valsa e acabaram os dois a dormir, lado a lado, debaixo da mesma cama.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Idade da Inocência

Devia de ter os meus cinco anos quando, diariamente, a minha mãe me pedia para ir buscar o pão à velha padeira simpática que ficava no fundo da rua onde eu morava. Todos os santos dias, antes da hora de almoço, lá ia eu feliz da vida com o saco bordado à mão que a minha mãe guardava religiosamente na primeira gaveta do móvel da cozinha, buscar o pão que ainda quente fazia as minhas delicias antes do almoço.
Mas comer o pão com manteiga não era propriamente o acto que me mais fascinava nas manhãs daqueles tempos.
A padaria ficava no fim da rua e a proprietária, já de idade, tinha a trabalhar consigo a sua bonita filha que ao fundo da loja amassava o pão num movimento electrizante. Ela tinha por hábito usar um vasto decote que mostrava descaradamente o grande par de seios que sustentava, e eu ficava hipnotizado a olhar para aquela parelha de mamas a abanarem e sem saber porquê ficava feliz e com vontade de amassar a massa do pão.
Hoje sei o porquê daquela felicidade mas na idade da inocência quando o momento que mais gostava do dia era o de ir buscar o pão quente, tudo aquilo era novo e tinha um poder mágico aos meus olhos de criança.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Ficções Nhárras com João Rosa

O telefone tocou às 4:33 da manhã de domingo e do outro lado estava o João Rosa perdido de bêbedo a gritar que me queria no Rio de Janeiro na semana seguinte porque ele ia entrar de férias. Durante 10 minutos repetiu a ideia até eu ceder e lhe dizer que lá estaria.
Era Carnaval e realmente tive de concordar com ele que o Rio era o melhor local para passar aquela época festiva.
Passado a tal semana lá fui eu para a Portela apanhar o voo para o Aeroporto Internacional Galeão António Carlos Jobim. Eram 7 da manhã e a primeira coisa que fiz após o check-in foi comprar um grande volume de português Azul para que não nos faltasse bom tabaco durante a toda a semana e levei também um bom Bridão do Cartaxo para matar saudades dos nossos tempos de juventude.
Embarquei por fim e depois de um longo caminho a dormir lá aterrei eu no Rio onde estava um clima fantástico com uns belos 29 graus e com umas cores bem vivas em tudo o que me rodeava. Apressei-me a ir buscar a bagagem que por sorte vinha inteira e aproximei-me da porta de desembarques onde não vi o meu amigo. Peguei no meu telemóvel para lhe ligar quando senti alguém atrás de mim que me abraçou e fez com que o meu “celular” desabasse no chão desmontando-se todo às peças de tal forma que ficou imediatamente sem arranjo.
Virei-me e ali estava o João Rosa com um belo fato creme, com camisa e sapatos brancos e um bonito chapéu de cowboy de cor púrpura a esconder a imensa careca que lhe surgiu ainda nos verdes anos de juventude. Estava gordo como sempre e fumava um grande charuto dominicano.
Levou-me para o seu Jipe BMW X5 cedido gentilmente pela sua empresa de exploração animal e quando abri a porta de trás encontrei três belas brasileirinhas em biquini a beberem uns refrescantes Martinis brancos com 7up.
Fizemos a viagem até à sua quinta nos arredores sempre em grande folia com aquelas raparigas e falando nos nossos belos tempos de juventude em que comprávamos pernas de presunto que não aguentavam inteiras nem por uma noite e fumávamos grandes charutos. Ao chegar à fazenda, ele deu-me uns calções de banho para podermos usufruir da sauna e descontrair da viagem, e continuámos a nossa pequena festa privada.
À hora de jantar veio duas mulatinhas trazer-nos dois belos bifes mal passados com frutas que devorámos à beira da piscina ouvindo um forró de fundo. Bebemos o tal Bridão e acabámos a andar a cavalo pela fazenda enquanto conversávamos sobre a nossa juventude e aquelas passagens de ano na casa dele que acabava tudo perdido da vida à volta da fogueira.
Nos dias seguintes acordámos cedo apesar continuar a sentir um ligeiro cansaço da viagem e do pequeno jet leg. Viajámos pelas ruas do Rio, visitámos o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor, o Maracanã, o Parque Nacional da Tijuca, A Quinta da Boa Vista, O Jardim Zoológico, o Passeio Publico e algumas casas de diversão nocturnas. Comprámos roupas dignas dos mais belos “chulos” e oferecíamos bebidas às miúdas giras do Rio. Éramos reis e senhores daquele lugar a tal ponto que acabámos por ser ameaçados de morte por alguns namorados enfurecidos.
A meio da semana lá fomos nós para o recinto do Carnaval ver todas aquelas mulheres em roupas mínimas e curtir a galhofa de todo o espectáculo. O João para não variar acabou em tronco nu a saltar no meio de dois pares de seios avolumados enquanto enchia copos anónimos com cachaça e passava as mãos nos rabos morenos das jovens festejantes.
No final da noite deu-nos uma fome descomunal e acabámos mesmo por roubar uma pequena lambreta que mal podia com o peso dos dois. Descemos as ruas até um pequeno restaurante de comida portuguesa e comemos uma bela e leve sopa da pedra e uns rojões à moda do Minho para em seguida subirmos até à favela da Rocinha para irmos apostar uns reais nas lutas de galos. Perdemos uma imensa fortuna mas não nos importámos muito. Á saída estavam um grande grupo de missionários da Igreja Umbandista que nos levaram para um culto privado onde acabámos os dois por ter de fugir após o João ter partido a uma sanita. Voltámos a descer a rua e quando olhámos para o cartaz de um pequeno cinema vimos que naquela noite ia decorrer um concerto de uma banda que marcou a nossa juventude e não hesitámos em entrar.
Aquele concerto era mais que simples música, era uma lembrança da nossa geração, era um voltar ao passado e era um apelo à sobrevivência das memórias que tínhamos cagaço que desaparecessem.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Dancer in the Dark

Hoje à noite revi um dos filmes que eu considero uma das maiores obras-primas do cinema. Falo-vos do brutal e bárbaro mas melódico Dancer in the Dark com a fantástica actuação da Björk no principal papel. Já vi este filme cerca de 10 vezes e continuo a admirá-lo como na primeira vez, apesar de afirmar sempre que será a ultima vez que o vejo. Toda a história envolta na triste e mal fadada personagem de Selma advinha qual será o seu revoltante e cruel fim.

Aviso, desde já, os mais sensíveis que o vídeo que se segue pode ser perturbante e até chocante para alguns mas não deixa de ter a sua beleza cénica e uma mensagem de esperança.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O futuro é feito do agora

As coisas boas da vida acontecem-me sempre aos pares. Já há algum tempo que tinha pensado nisto e mais uma vez acabei por confirmar esta suspeita. Posso dizer que a minha sorte está a mudar e que a minha vida está a tomar um novo sentido bem mais feliz e positivo. O que eu realmente ainda não entendi é se os acontecimentos recentes da minha vida me estão a fazer ter uma visão mais positiva ou se foi a minha alteração da forma de como estou a ver o mundo que me está a trazer frutos. Sempre ouvi dizer que quando acreditamos nas coisas e que quando as vemos pelo seu melhor lado que tudo o que desejamos vem ao nosso encontro.
Simplesmente sei que desde que levantei a cabeça e tomei a decisão de sorrir que todo o meu mundo faz mais sentido e está bem mais belo. Agora é só pensar que o passado é passado e que o futuro é feito do agora.

Durante muito tempo senti falta desta energia e pensei que ela devia estar a chegar… agora sei que já chegou.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Apóstolo do alto astral

Sentámo-nos por fim depois de tanto andar nestes últimos dias e o empregado apressou-se a fazer o pedido. Para mim foi uma Corona Extra bem fresca com lima, como manda a tradição, enquanto que para ela foi uma simples mas sempre actual Coca-Cola. Enquanto conversávamos deparámo-nos com um indivíduo estrangeiro sentado numa posição pouco ortodoxa no canto da sala, com duas imperiais de 0,50 meio cheias em cima da mesa, completamente sozinho e embriagado até não poder mais. Esteve ali mais de meia hora a dormir no meio da confusão e da música barulhenta e apenas acordou quando ouviu o You Shook Me All Night Long. Levantou-se a cambalear, ergueu os braços no ar, cantou e dançou como se ninguém ali estivesse ou se importasse com o seu estado. No fim ainda olhou para mim esboçou um sorriso e levantou o copo num gesto de amizade para a minha pessoa. Isto fez-me pensar que realmente quando uma pessoa emana boas vibrações acaba por ter o retorno desse mesmo estado de espírito.
Toda aquela situação deixou-me verdadeiramente bem disposto e veio reforçar a minha ideia de querer levar a vida mais na boa. Afinal passo mais de metade da minha vida a preocupar-me com coisas que nunca aconteceram, que não acontecem e que não vão acontecer.
Apesar de não ser crente em nenhuma espécie de congregação religiosa sei que o meu “Deus” acaba sempre por me dar tudo o que eu quero.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Feliz Ano NovE

Acabadinho de chegar da primeira madrugada de 2009 não podia de deixar de criar um post a desejar um Feliz Ano “Nove” para todos os que por aqui passam.
Se há dias que eu odeio são o Natal e o meu Aniversário mas com a passagem de ano é diferente, tem outra magia, uma beleza intrínseca que mexe de certa forma comigo. Acredito que passar o ano é mudar um ciclo, é ter a oportunidade de começar qualquer coisa de novo, ter a oportunidade de esquecer amarguras do passado, de encerrar realidades que ficaram por resolver e de desejar ser melhor.
Teoricamente a passagem de ano não é nada mais nada menos que algo estabelecido pelo calendário para celebrar a rotação completa do nosso planeta pelo sol, mas na prática é uma capacidade de podermos colocar um ponto final numa etapa e, psicologicamente, entrarmos num novo período de crença em nós, nos outros e no global. Desta forma a entrada num novo ano faz com que as pessoas ganhem forças para enfrentar as adversidades e as glórias da vida de cabeça erguida e com um sorriso crédulo e cheio de positividade. É altura também de estudar as prioridades e agarrar novas oportunidades, porque como diriam os velhos sábios “ Quem espera sempre alcança” apesar de no meu caso ter sido algo parecido com “Quem espera, desespera.”.
Eu, como é tradição, lá comi as 12 passas a seguir à meia-noite para pedir os desejos de fim de ano e acredito que alguns deles vão ser ponderados pelo senhor que recebe os desejos de ano novo e se não for possível realiza-los todos pelo menos que faça com que o meu Sporting seja campeão… se não for pedir muito que ganhe a Champions também.

Vamos lá ao caminho porque este é o primeiro dia do resto das nossas vidas.



Desculpem se algo não faz sentido mas o grau de alcoolemia não permite mais.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Uma palavra chamada confusão

“Palavras serão sempre palavras. Sentimentos serão sempre sentimentos. Não consigo encontrar a forma de eles andarem de mãos dadas para que sejam fiéis um ao outro. Acabo sempre por deixar tanta coisa por dizer apesar de sentir tudo e mais alguma coisa do que disse.”



Diz-me... porquê
Este é o livro que nunca li
Estas são as palavras que nunca falei
Esta é a trilha que nunca seguirei
Estes são os sonhos que sonharei ao invés
Esta é a alegria que é raramente espalhada
Estas são as lágrimas, as lágrimas que derramámos
Este é o sentimento
Este é o temor
Este é o conteúdo da minha cabeça
E estes são os anos que passamos juntos
E isto é o que eles representam
E é assim que me sinto.
Tu sabes como me sinto?
Porque eu acho que tu sabes como eu me sinto.
Acho que tu sabes o que eu sinto.
Porquê…
Acho que tu não sabes o que eu sinto…
Tu não sabes o que eu sinto.

Não te quero largar da mão, não me fazes comichão mas o barco aguenta melhor sem ti.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

My Blueberry Nights

Poético, poderoso, minucioso, avassalador, brando, subtil e fabuloso.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

História Trágica de Amor/Ódio

Get down, get down, little Henry Lee
And stay all night with me
You won't find a girl in this damn world
That will compare with me
And the wind did howl and the wind did blow
A little bird lit down on Henry Lee

I can't get down and I won't get down
And stay all night with thee
For the girl I have in that merry green land
I love far better than thee
And the wind did howl and the wind did blow
A little bird lit down on Henry Lee

She leaned herself against a fence
Just for a kiss or two
And with a little pen-knife held in her hand
She plugged him through and through
And the wind did roar and the wind did moan
A little bird lit down on Henry Lee

Come take him by his lilly-white hands
Come take him by his feet
And throw him in this deep deep well
Which is more than one hundred feet
And the wind did howl and the wind did blow
A little bird lit down on Henry Lee

Lie there, lie there, little Henry Lee
Till the flesh drops from your bones
For the girl you have in that merry green land
Can wait forever for you to come home
And the wind did howl and the wind did moan
A little bird lit down on Henry Lee



Simplesmente fantástico

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

A queda

Entrei e fechei a porta. Senti o típico arrepio na barriga mas levantei a cabeça e enfrentei os meus medos pois sabia que apesar do risco que corria poderia experimentar a mais bela sensação do mundo. Então, assim o fiz, e acabei mesmo por me sentar confiante no pequeno banco de cabedal onde mexia nos botões que ligavam o motor 1 e o motor 2. Fiz-me à pista e uns segundos depois sentia a sensação libertadora da descolagem como se me dirigisse para um sítio bem melhor. Com a pressa de fugir e num acto de rebeldia parti mesmo sem avisar a torre de controlo que me fazia vários apelos de contacto.
Quando cheguei aos dez mil pés de altitude no pequeno avião senti que algo não estava bem e que já não havia nada a fazer. Deixei-me cair a toda a velocidade e não fui capaz de evitar o inevitável. Embati na terra a toda a velocidade mas consegui escapar apenas com umas feridas, algumas delas bem difíceis de cicatrizar mas nada que me impeça de continuar a minha vida.
A única coisa que sei é que a partir do dia em que tomei consciência do sucedido nunca mais consegui voltar a entrar no avião e fazer-me à pista. Não consigo tomar a decisão de descolar sabendo que corro o risco de voltar a cair. Só confiava no velho avião mas até esse acabou por me falhar.

domingo, 21 de dezembro de 2008

A casa

“Era linda a nossa casa”, lamuriava ele aos encantadores ouvintes dos desabafos. Era uma bela casa construída por nós, erguida tijolo a tijolo pela nossa paixão, com paredes pintadas de companheirismo e com telhas acasaladas de amizade. Tinha janelas que mostravam orgulhosas o dourado do nosso futuro e flores que coloriam a nossa cumplicidade. Os raios de sol cintilavam nos nossos corpos pela manhã e à noite jantávamos à luz das estrelas.
A casa era constituída por uma sala dos segredos que tinha um piano onde tocava para ti, e só para ti, as mais belas canções de enamorados; tinha também um quarto onde nos amávamos, uma cozinha onde alimentávamos as nossas esperanças e uma casa de banho onde desabafávamos dos nossos tormentos. O lugar mais especial era sem duvida o magnifico hall de entrada… era lá que juntávamos tudo e tornavamos a casa completa e embelezada.
Construir uma casa não é tarefa fácil mas conseguimos ultrapassar por muito juntos ao adorar aquele nosso lugar intemporal, refúgio de muitas vivências e confissões deixadas nos pequenos objectos que a habitavam.
Chegou um dia que começaram a aparecer as pequenas rachas nas paredes e vi a tua sombra sair pela porta fora para não voltares. A casa ficou vazia e acumulou montes de papéis com as nossas memórias, a madeira do piano secou, as flores murcharam, o quarto armazenou o pó da ausência dos nossos corpos, deixou de existir alimento na cozinha, os canos entupiram e as janelas cerraram a luz do sol.
Deixámos passar o tempo e não vimos qualquer valor naquela casa que um dia já foi nossa, e ela acabou mesmo por arder num fogo lento que destruiu quase tudo no que nela se encontrava.
A tristeza caiu em mim e o tempo sussurrou-me que deveria reconstruí-la novamente contigo. Sabes bem que é bem mais difícil reconstruir uma casa queimada do que construir uma nova mas também sabes que aquela casa não é uma casa qualquer… é a casa que um dia foi nossa.
Estou já a tentar dar os primeiros passos na reedificação dela mas preciso da tua ajuda. Necessito de sentir que aquele espaço é de novo nosso mas continuo sem saber se ainda queres voltar para a nossa casa. Tens a porta aberta a chamar por ti.

A casa de que falo é o mais belo lugar que já tive. Não é nada mais, nada menos que o nosso amor.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Resting

Preciso de descansar, e como tal não tenho vontade de escrever muito pois as cabeças dos meus dedos estão como que a lacrimejar por tudo o que escrevi toda a tarde. Foi uma tarde não só de introspecção mas também de retrospecção. Arrumar ideias e ter a capacidade para as espremer para o papel foi duro e fizeram sair palavras tristes, revoltas e verdadeiras, mas que precisavam de se soltar. Ainda bem que o fiz!
Tenho esperança que estas palavras, hoje recolhidas, possam fazer a diferença no amanhã.
Agora só quero sentar-me no canto, apagar a luz, acender o cigarro, fechar os olhos e relaxar ao som daquela que é uma das melhores músicas alguma vez criada, daquela que é uma das melhores bandas que alguma vez existiu, e que me acompanhou já tantas vezes para todo o lado. Quero ouvir um hino ao amor.

Heróis de Alkmaar

Hoje à tarde um colega meu pediu para lhe dizer um momento em que tenho sido verdadeiramente feliz, um momento em que tenha ficado em êxtase, algo que me tenha feito perder a cabeça de tanta alegria. Já não é a primeira pessoa que me pergunta isto e sempre que penso na resposta vem-me à cabeça inúmeras situações, mas há uma que surge rapidamente. Sei que para muitos pode parecer ridículo mas para mim, que nessa noite chorei compulsivamente de alegria durante mais de uma hora, deitado no chão numa posição pouco ortodoxa, após vários minutos em que tive de sair de frente do televisor inumeras vezes tal era o estado de nervos. No final de tudo segui para o aeroporto até de manhã juntamente com milhares de pessoas que queriam exaltar um feito histórico, algo de maravilhoso.

Sei que nessa noite estava verdadeiramente feliz… Obrigado heróis de Alkmaar.



Ainda hoje quando revejo este clip dá-me uma subita vontade de chorar.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Oportunidade para tornar a vida extraordinária.

Tudo tem o seu tempo e nada dura para sempre. Viver ensina-nos que por mais que queiramos não podemos ter total controlo sobre as nossas coisas e sobre o que nos rodeia, pois somos simples peões passageiros que funcionamos como células isoladas num universo que teima em nos fazes sentir pequenos e inúteis. Cada vez mais a actualidade faz-nos esquecer que devemos operar como um corpo uno e acabámos por escolher caminhar de mãos nos bolsos, bem cerradas e quietas afugentadas do toque e do auxílio.
Andamos à deriva dirigidos por estímulos e sentimentos que nos fazem ver a vida de determinadas formas, umas vezes maravilhosa, outras horríveis mas sempre como algo primário e ao mesmo tempo complexo.
Acredito piamente que todos nós cá andamos porque temos algo para dar em função de o todo… Todos nós estamos programados para uma missão, nem que seja a simples missão de viver, de estarmos presentes e de podermos afirmar que estamos cá a vaguear.
Na minha vida sempre tive dificuldade em entender o porquê disto tudo e principalmente o porquê da minha existência. Sou uma pessoa de sentimentos que por vezes não sei lidar com os mesmos, que complico, que sofro, que penso demais no nada e no tudo e, desta forma, nunca acreditei no destino mas sim num caminho preestabelecido, num caminho que se vai moldando à nossa conjuntura pessoal, que reflecte um passado, um presente e um futuro encarado como uma meta inevitável.
O destino simplesmente não existe porque não depende só de nós próprios, depende de todos os outros e de tudo o que nos envolve, das nossas acções e do inexplicável.
Neste sentido sei que olho com desdém tanto para aquele que afirma que a vida é bela, como para o outro que diz que tudo não passa de um mar de desilusões e ilusões. A vida é isto mesmo… é um misto de tudo, é uma oportunidade de aprender e tentar fazer sempre o melhor, de perdoar, de acreditar, de lutar e de conceder oportunidades… é uma oportunidade para amar e ser amado, é uma oportunidade de virar a página, uma oportunidade de saber aproveitar tudo o que temos, de valorizar os outros e nós próprios, de simplificar, de errar e pedir perdão… é uma oportunidade de dar, de ensinar, de ajudar e ser ajudado.
Quem não aceita os factos acaba no mundo da revolta, do ódio, da indiferença e da intolerância. Acaba preso a recordações e desilusões, estagna e fica ligado a um momento que já foi e que por mais que se queira não vai voltar…o tempo é filho da puta e é inimigo dos crentes desenquadrados, mas é assim mesmo… pode ter muitos defeitos o senhor tempo mas de uma coisa não lhe podemos apontar o dedo, ele acaba sempre por nos dar uma oportunidade, muitas das vezes não a que queremos mas sempre uma qualquer oportunidade.


Ela dá-nos sempre uma oportunidade porque viver é uma oportunidade.



A vida por si só pode não ser fantástica mas temos sempre a hipótese de a tornar extraordinária.

Retrospectiva do nariz vermelho

Hoje andava a passear pelos becos aqui da web quando encontrei algo que marcou a minha infância. Estou a falar de uns desenhos animados que estavam guardados bem no fundo da minha memória e que após ver o vídeo acenderam-se, quase que por magia, as minha memórias desse tempo. Lembro-me de acordar de manhã com os meus cinco anos e devorar estes deliciosos desenhos animados como se o mundo fosse feito com as pontas dos pequenos lápis de cor.

É impressionante a memória humana… não é que enquanto via o pequeno clip percebi que ainda me lembrava da letra da música.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Visão Aterradora

A noite acabou... Dei-te um forte abraço de consolo como que soubesse que seria a última vez que te avistaria com vida. Há muito que éramos inseparáveis… provavelmente desde que nascemos que éramos unha com carne, crescemos juntos e passámos unidos por muitas felicidades e adversidades da vida. Estendemos a mão um ao outro sempre que precisámos, sorrimos e chorámos juntos pelos caminhos da vida.
Nessa noite algo me disse que tu irias partir para não voltar… o teu olhar dizia-me que já não aguentavas mais este mundo, a tristeza patente no teu corpo era um sinal gritante da tua revolta, o sorriso forçado indicava a indiferença por tudo o que te envolvia. Apresentavas-te na nossa companhia como um mutante mutilado pelas intempéries que te corrompiam o interior, vagueavas sem forças como se de uma obrigação se tratasse e não olhavas ninguém nos olhos.
Nessa noite pressenti algo, mas não consegui ler os sinais… bradavas silenciosamente por auxílio enquanto caminhavas silenciosamente. No fim deste-me um simples e adulterado “até amanhã”e viraste costas. No dia seguinte fui acordado com a notícia mas já cá não estavas… já tinhas partido para o outro mundo…

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Apaixonar-me por uma míuda

Can't think of anything to do
My left brain knows that
All love is fleeting
She's just looking for something new
And i said it once before
But it bears repeating

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Jogos de Amor

Penso que todos nós já sofremos e já fizemos sofrer. Eu pessoalmente já passei pelas duas partes da moeda e qualquer uma delas teve o poder de me deitar abaixo como se o meu mundo aluísse perante os meus pés. Quando se trata de amor e relações nada é fácil, dizem-me as experiências, principalmente quando pessoas saem com os sentimentos feridos. Não foi assim há tanto tempo que me sucedeu uma grande desilusão mas também faz pouco tempo que fiz sofrer uma pessoa de quem ainda nutro um enorme respeito.
Sei que não sou perfeito e que na imensidão dos meus defeitos não fui correcto, sei que fiz sofrer injustamente uma pessoa que não merecia, que estava disposta a lutar, a dar um sorriso e uma palavra amiga mas quando se trata de resolver problemas sempre fui um egoísta de primeira. Quando há pedaços de mim que não estão bem resolvidos é-me impossível andar para a frente e desta vez fiz com que uma pessoa por quem tenho um grande carinho ficasse verdadeiramente mal. Tinha em mim várias coisas que tinha de resolver e precisei de passar por isto sozinho.
Penso que um Ser Humano é maior no seu interior quando tem a capacidade para admitir os seus erros e para pedir desculpas sinceras, e é isso que estou a tentar fazer. É duro passar por essa pessoa e saber que os sentimentos em relação à minha pessoa estão no limiar do ódio e da revolta apesar de entender o porquê. De qualquer das formas penso que um dia ainda vamos perceber que podemos ser bons amigos e que todas estas barreiras se vão quebrar entre nós.



Sei bem que vais entender o vídeo.

Sinceras desculpas I.A.

O Caminho

Saímos de manhã cedo. Era um daqueles dias fantásticos de verão em que entrámos nos carros direitinhos a uma bela semana de férias todos juntos. Foram 3 carros carregados de amigos que há muito não se juntavam para estas andanças e pusemo-nos ao caminho. Com os raios de sol a baterem-nos na cara ouvíamos alegremente as canções que marcaram a nossa juventude, dos tempos em que a vida era feita lá na rua com uma bola e dois pares de mochilas.
Percorremos quilómetros e quilómetros até que fizemos a nossa primeira paragem numa praia deserta onde passámos a manhã percorrendo a praia todos nus até que percebemos que lá em cima da colina havia um miradouro cheio de belas turistas holandesas que nos assobiavam e apupavam.
Continuámos o caminho pela costa até que fomos dar a uma zona perdida à beira-mar com umas ventoinhas eólicas e com umas camaratas, num espaço paradisíaco que tinha tudo para ser perfeito.
Durante dias vivemos numa perfeita anarquia aproveitando tudo o que aquela natureza nos dava. Entre o surf e as refeições, as guitarradas e os mergulhos, os “joints” e as gargalhadas criámos um espírito de irmandade inigualável que acabava nas longas conversas nocturnas e no relembrar da nossa infância e juventude. Mesmo sabendo que éramos como irmãos, todos tínhamos a noção que poderia não ser assim para sempre, mas também todos sabíamos que aquela semana tinha sido como que percorrer um “caminho”… um “caminho” em que…

…Qualquer um podia ver que a estrada
Em que eles andam
É pavimentada em ouro
E é sempre verão
Eles nunca ficarão com frio
Nunca ficarão com fome
Nunca ficarão velhos e grisalhos

Unza Unza

Tomei conhecimento, concorri mas ficou adiado. Desde sempre que tenho um fascínio enorme pelos Balcãs e há algum tempo tomei conhecimento de uma maneira de ir para lá viver durante um ano... Fui tarde de mais mas deram-me uma segunda oportunidade e vou querer agarrá-la. Por enquanto tenho de me contentar em ouvir umas músicas de uma banda que já tive o prazer de ver ao vivo duas vezes, e que para mim é, sem sombra de duvidas, das melhores bandas do planeta.

Da Ex-jugoslávia para vocês, EMIR KUSTURICA & NO SMOKING ORCHESTRA

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Um Mundo Catita

Quem me conhece sabe bem que sou um grande fã do génio de Manuel João Vieira. Ao longo dos tempos fui conhecendo melhor o seu trabalho e apercebi-me que adoro o seu espírito criativo. Desta vez podemos vê-lo na magnifica série chamada "Um Mundo Catita" que passa na RTP2 aos domingos às 23:45.

O site oficial é o www.mundocatita.com

:)

Na vida temos, por vezes, momentos em que nos sentimos em baixo, atormentados por frustrações que não conseguimos superar, pensando demasiado nas acções e nas consequências, nas atitudes, nas desilusões, nas ilusões e nos idealismos. Sofremos em voz baixa com tudo o nos faz afundar e mantemos esses fantasmas no nosso interior até que eles se tornem em nossos companheiros de caminhadas. De certa forma as ideias andam às voltas na nossa cabeça e faz com que uma pessoa estagne na sua progressão.
Faz bastante tempo que varias ideias, fantasias e ilusões me acompanhavam no dia a dia impedindo-me de avançar na minha vida mas foi, com muita alegria minha, que esta semana consegui finalmente ver-me livre de vários fantasmas que me escoltavam no meu caminho. Consegui finalmente encontrar um sentido, resolvendo vários fragmentos do meu interior, lembrando com afabilidade memórias, pessoas e vidas vividas, acreditando num futuro e acima de tudo acreditando na minha pessoa. Sinto-me bem com a vida e estou em paz.

Hoje acredito no amanhã.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Escuridão Iluminada

Já passava da meia-noite quando decidi sair de casa. Era uma daquelas noites geladas de Outono em que uma pessoa se sente adormecida e que procura algo que nem ela própria sabe o que é. Nessas situações o melhor é um gajo meter-se no carro e conduzir à deriva até ver onde pode ir dar. No meu caso fui dar a uma falésia junto ao mar onde podia ver, em silêncio, o reflexo da lua na ondulação. Acabei mesmo por sair do carro e descer a longa escadaria que dividia o parque do areal e, num acto de hedonismo, sentei-me na parte molhada, acendi um cigarro, fechei os olhos e acabei mesmo por adormecer. Só acordei quando a ondulação que me envolveu me anunciou que a maré estava a subir e me segredou sorrateiramente para caminhar para a existência.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Tardes de Verão

"Estava divertido. Andei a brincar a tarde toda com elas no parque enquanto comia gomas e subitamente veio-me um cheiro a sexo e doces. Sorri descaradamente!"

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Toca-me uma balada

Olhei para o relógio e já marcava 2:47. Ali estava eu, todo desabotoado, sentado ao balcão daquele bar escuro enquanto bebia a minha sexta Guinness pint e pensava na minha semana de trabalho. Andava tão ocupado que já não tinha tempo para mais nada, a não ser para a minha vida de alcoólico e de workahoolic.
No momento em que os meus olhos se preparavam para fechar devido à elevada taxa de alcoolemia, entrou um jovem que se sentou ao piano e tocou uma daquelas baldas de piano jazz.
No fim da música levantei-me com as lágrimas na cara e com o andar cambalaeante de bêbedo, dei duas "pêras" no puto, subi para cima do piano e gritei por mim próprio a pulmões cheios!

Bebé, faz o olhar diabólico.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008