segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O Rapaz que se chamava solidão

Há uns tempos atrás, numa noite destas, eu e a minha namorada fomos até ao centro da cidade para assistirmos a um concerto de um conhecido artista das nossas bandas. Quando chegámos instalámo-nos no centro do recinto para que pudéssemos ver e simultaneamente pudéssemos desfrutar calmamente da nossa própria companhia. O espectáculo começou e transportou-nos logo para outra dimensão onde reinava a calma e a sensação de paixão.
Por todo o lado viam-se casais de namorados agarrados a trocarem gestos de carinho, viam-se idosos cúmplices do seu amor, viam-se casais com filhos em perfeita sintonia e por fim, no centro do recinto, passando quase despercebido, o rapaz solidão olhava em volta para tudo aquilo. Numa das primeiras vezes que reparei no rapaz fiquei de certa forma incomodado, pois olhava fixamente para mim e para a minha namorada. Não liguei e voltei a olhar para o palco. Numa segunda vez que olhei voltei a encontrar o mesmo olhar e nesse momento passou-se pela cabeça soltar-lhe um daqueles típicos “para onde ‘tás a olhar?” ou “queres uma foto?” mas contive-me.
O Rapaz devia ter por volta dos 14 anos e apresentava uma fraca figura. Usava um boné encarnado e tinha uma barba mal semeada de cachopo que ainda não tem paciência para a fazer. Apesar da fraca figura mostrava ser calmo e até um certo ponto introspectivo e... talvez curioso de mais para o meu gosto. Estaria eu enganado em relação a isso?
O espectáculo continuou cada vez mais intenso com um alinhamento daqueles que junta qualquer casal de namorados, mesmo os que estão chateados, num momento dos dois e o rapaz continuava ali sozinho. Num daqueles momentos em que calha olhar para o lado, voltei a ver o rapaz a olhar em seu redor e a sua mira acabou novamente em mim e na minha namorada… Naquele momento senti a minha garganta a preparar-se para se soltar mas foi travada após uma observação mais cuidada do pobre rapaz que tentando disfarçar, limpava as lágrimas que lhe escorriam pela cara. Afinal era um miúdo que sem maldade chorava um amor de liceu, que olhava em redor procurando entender o significado do amor, procurando uma explicação para não poder estar na mesma situação, procurando uma razão para não ser correspondido. Pobre rapaz! Afinal quem nunca teve um amor de liceu? E quem nunca sofreu por isso?
Senti-me mal naquele momento porque o miúdo, e não passava de um miúdo, com a vida toda pela frente e com tanto para presenciar e aprender, estava verdadeiramente a sofrer e não tinha qualquer intenção de estar a incomodar quem quer que fosse. Queira apenas explicações e uma resolução diferente para os seus sentimentos. Queria apenas um pouco daquilo que todos os outros que ali se encontravam tinham. Pobre rapaz solidão… tinha o seu coração encharcado de lágrimas como se tratasse de papelão…

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