quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Ficções Nhárras com João Rosa

O telefone tocou às 4:33 da manhã de domingo e do outro lado estava o João Rosa perdido de bêbedo a gritar que me queria no Rio de Janeiro na semana seguinte porque ele ia entrar de férias. Durante 10 minutos repetiu a ideia até eu ceder e lhe dizer que lá estaria.
Era Carnaval e realmente tive de concordar com ele que o Rio era o melhor local para passar aquela época festiva.
Passado a tal semana lá fui eu para a Portela apanhar o voo para o Aeroporto Internacional Galeão António Carlos Jobim. Eram 7 da manhã e a primeira coisa que fiz após o check-in foi comprar um grande volume de português Azul para que não nos faltasse bom tabaco durante a toda a semana e levei também um bom Bridão do Cartaxo para matar saudades dos nossos tempos de juventude.
Embarquei por fim e depois de um longo caminho a dormir lá aterrei eu no Rio onde estava um clima fantástico com uns belos 29 graus e com umas cores bem vivas em tudo o que me rodeava. Apressei-me a ir buscar a bagagem que por sorte vinha inteira e aproximei-me da porta de desembarques onde não vi o meu amigo. Peguei no meu telemóvel para lhe ligar quando senti alguém atrás de mim que me abraçou e fez com que o meu “celular” desabasse no chão desmontando-se todo às peças de tal forma que ficou imediatamente sem arranjo.
Virei-me e ali estava o João Rosa com um belo fato creme, com camisa e sapatos brancos e um bonito chapéu de cowboy de cor púrpura a esconder a imensa careca que lhe surgiu ainda nos verdes anos de juventude. Estava gordo como sempre e fumava um grande charuto dominicano.
Levou-me para o seu Jipe BMW X5 cedido gentilmente pela sua empresa de exploração animal e quando abri a porta de trás encontrei três belas brasileirinhas em biquini a beberem uns refrescantes Martinis brancos com 7up.
Fizemos a viagem até à sua quinta nos arredores sempre em grande folia com aquelas raparigas e falando nos nossos belos tempos de juventude em que comprávamos pernas de presunto que não aguentavam inteiras nem por uma noite e fumávamos grandes charutos. Ao chegar à fazenda, ele deu-me uns calções de banho para podermos usufruir da sauna e descontrair da viagem, e continuámos a nossa pequena festa privada.
À hora de jantar veio duas mulatinhas trazer-nos dois belos bifes mal passados com frutas que devorámos à beira da piscina ouvindo um forró de fundo. Bebemos o tal Bridão e acabámos a andar a cavalo pela fazenda enquanto conversávamos sobre a nossa juventude e aquelas passagens de ano na casa dele que acabava tudo perdido da vida à volta da fogueira.
Nos dias seguintes acordámos cedo apesar continuar a sentir um ligeiro cansaço da viagem e do pequeno jet leg. Viajámos pelas ruas do Rio, visitámos o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor, o Maracanã, o Parque Nacional da Tijuca, A Quinta da Boa Vista, O Jardim Zoológico, o Passeio Publico e algumas casas de diversão nocturnas. Comprámos roupas dignas dos mais belos “chulos” e oferecíamos bebidas às miúdas giras do Rio. Éramos reis e senhores daquele lugar a tal ponto que acabámos por ser ameaçados de morte por alguns namorados enfurecidos.
A meio da semana lá fomos nós para o recinto do Carnaval ver todas aquelas mulheres em roupas mínimas e curtir a galhofa de todo o espectáculo. O João para não variar acabou em tronco nu a saltar no meio de dois pares de seios avolumados enquanto enchia copos anónimos com cachaça e passava as mãos nos rabos morenos das jovens festejantes.
No final da noite deu-nos uma fome descomunal e acabámos mesmo por roubar uma pequena lambreta que mal podia com o peso dos dois. Descemos as ruas até um pequeno restaurante de comida portuguesa e comemos uma bela e leve sopa da pedra e uns rojões à moda do Minho para em seguida subirmos até à favela da Rocinha para irmos apostar uns reais nas lutas de galos. Perdemos uma imensa fortuna mas não nos importámos muito. Á saída estavam um grande grupo de missionários da Igreja Umbandista que nos levaram para um culto privado onde acabámos os dois por ter de fugir após o João ter partido a uma sanita. Voltámos a descer a rua e quando olhámos para o cartaz de um pequeno cinema vimos que naquela noite ia decorrer um concerto de uma banda que marcou a nossa juventude e não hesitámos em entrar.
Aquele concerto era mais que simples música, era uma lembrança da nossa geração, era um voltar ao passado e era um apelo à sobrevivência das memórias que tínhamos cagaço que desaparecessem.

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