quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Ismael morreu de verdade.

Faz muitos anos que Ismael desapareceu da face da terra. Durante toda a sua vida carregou um cruel destino que estava travado nele desde a sua nascença. Filho de um casal de assassinos, nasceu num chuvoso dia numa casa de banho de uma garagem de autocarros, apenas três dias depois da morte do seu pai por overdose de heroína.
Como se não bastasse, Ismael, pobre e mal fadado, nasceu com uma maldição terrível que o iria acompanhar em todos os sofridos dias da sua vida.
Quando ainda estava no ventre de sua mãe, Ismael participou indirectamente e inocentemente em pequenos delitos praticados pela sua progenitora. Esta aproveitava-se da sua fragilizada imagem para pedir auxílio às pessoas das regiões por onde passavam. A pobre mulher convencia, através das suas mentiras, as pessoas a darem-lhes um local para dormirem e, sem que estas se apercebessem, durante a noite todas as coisas de valor desapareciam das casas tal como a “frágil” mulher grávida.
Durante dois meses limparam um conjunto de casas um pouco por todo o lado, inclusive numa pequena casa onde morava uma senhora idosa que ao ver os bens de uma vida serem roubados, rogou que aquela mulher e o seu marido sofressem com todos os males do mundo, que passassem fome, que caíssem num poço sem fundo e que acabassem por desaparecer da face da terra.
A única verdade que a velha lesada sabia é que aquela mulher transportava um ser dentro dela e que esse não deveria pagar pelas mentiras dos pais. Então criou um feitiço em que, a partir do seu nascimento, aquela pessoa não conseguiria mentir em situação alguma da sua vida. A mulher acreditava devotamente que a verdade absoluta e permanente iria fazer daquela criança um ser com um destino melhor que o dos seus país e que o poderia guiar para um caminho de felicidade.
Ismael nasceu e cedo a sua mãe morreu esquartejada num pequeno quarto de um albergue. Com apenas dois anos ficou órfão e foi parar a um lar de rapazes. Quando começou a falar as pessoas à sua volta afastavam-se dele, pois este conseguia fazer qualquer um sentir-se mal.
Ao longo dos anos, Ismael assistiu e foi vitima de abusos dentro do lar que o recebeu e quando um dia o director o questionou sobre tudo o que se passava naquele lugar, o pobre rapaz contou tudo com todas as palavras que sabia. Imediatamente foi vítima de agressões que o obrigaram a fugir para longe daquele lugar. Durante anos e anos a pobre criança caminhou pelas ruas do mundo pedindo esmolas. Ouvia e via o que de pior há no mundo e sofria por não poder mentir, nem sequer a ele próprio.
O confronto era inevitável e foram incontáveis as vezes em que o jovem era questionado pelas diversas razões inerentes à vida. Devido à sua incapacidade de falsear acontecimentos e vivencias, Ismael era constantemente vítima de agressões que o deixavam às portas da morte. A sua juventude foi sempre assim, passada entre as ruas e as alas de hospitais onde curava as feridas das verdades. Quando entrou na fase adulta, Ismael foi colocado numa ala psiquiátrica de um hospital onde lhe foi diagnosticado um estado de loucura incurável. Para qualquer médico ninguém conseguia ser tão verdadeiro como Ismael era. Tanta verdade só podia ser mentira.
Ao fim de uns tempos um silêncio instalou-se dentro dele. A sua boca não abria mais para falar coisa alguma. Ele encontrara a paz no silêncio.
Continuou a sua vida no hospital psiquiátrico e continuou a ouvir e a ver todo o tipo de coisas. Ao fim de um certo tempo, também os seus olhos se fecharam para esconder a realidade do mundo.
Um dia, e cansado daquilo tudo, Ismael conseguiu fugir e caminhou durante dias sem parar até um vale verde. Nesse vale existia uma pequena macieira a crescer o que causava uma estranha sensação de prazer naquela pessoa que viveu toda uma vida a sofrer. Serenamente ele abriu um buraco junto à pequena árvore e durante dias falou tudo o que já tinha vivido para aquele buraco. O sol levantava-se e punha-se e Ismael lamuriava toda a sua vida àquele pequeno buraco. As lágrimas caíam lá para dentro ao mesmo ritmo que as palavras. No fim ele sentiu paz… pela primeira vez na sua vida este pobre coitado sentiu paz, e essa paz deu-lhe força.
Levantou-se, tapou o buraco e caminhou até à cidade mais próxima. Quando lá chegou sentia o seu coração a bater, o sangue corria-lhe pelas veias e ele não se importava mais de ser como era. Subiu ao ponto mais alto do centro da povoação e gritou todas as verdades do mundo. Em pouco tempo fez parar toda a cidade e pôs toda a gente a escutá-lo enquanto da sua boca saíam os males do mundo. As pessoas começaram a chorar e rapidamente o foram buscar, desejando que ele se calasse. Elas não aguentavam ouvir mais e então juntaram-se os idosos aos jovens, os homens às mulheres e bateram-lhe até que a sua voz fosse quase muda e o seu coração desejasse não bater mais. Houve ainda tempo para se ouvir um sussurro baixinho proferido assim: "É fácil falar claramente quando não se vai dizer toda a verdade."


segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Postal Roubado, Amor Desencontrado "Resposta"

Meu querido Fernando,

Fico feliz por receber boas novas suas. Receio não poder ausentar-se até casa de Vossa Senhoria, pois o Senhor meu marido não me permitirá viajar sem razão para tal. Além disso encontro-me de momento de esperanças e fui aconselhada pelo Senhor Doutor Ferreira a ficar em repouso. Como sabe meu prezado Fernando a criança que nasce dentro de mim é fruto do nosso secreto amor e chamar-lhe-ei, se Deus nos conceder um rapaz, de Fernando. Tenho reflectido num plano para que os nossos lábios se encontrem unidos num futuro próximo. Tenha paciência meu adorado Fernando e confie em mim. A Condessa de Escravilheira, Senhora minha irmã está informada do nosso oculto amor e disponibilizou-nos a sua moradia de campo em Ourique para que possamos fugir das nossas entediantes vidas separadas. Aguarde informações da hora e do local para o efeito.

Sua amante na e para a eternidade,

Ofélia

O Rapaz que se chamava solidão

Há uns tempos atrás, numa noite destas, eu e a minha namorada fomos até ao centro da cidade para assistirmos a um concerto de um conhecido artista das nossas bandas. Quando chegámos instalámo-nos no centro do recinto para que pudéssemos ver e simultaneamente pudéssemos desfrutar calmamente da nossa própria companhia. O espectáculo começou e transportou-nos logo para outra dimensão onde reinava a calma e a sensação de paixão.
Por todo o lado viam-se casais de namorados agarrados a trocarem gestos de carinho, viam-se idosos cúmplices do seu amor, viam-se casais com filhos em perfeita sintonia e por fim, no centro do recinto, passando quase despercebido, o rapaz solidão olhava em volta para tudo aquilo. Numa das primeiras vezes que reparei no rapaz fiquei de certa forma incomodado, pois olhava fixamente para mim e para a minha namorada. Não liguei e voltei a olhar para o palco. Numa segunda vez que olhei voltei a encontrar o mesmo olhar e nesse momento passou-se pela cabeça soltar-lhe um daqueles típicos “para onde ‘tás a olhar?” ou “queres uma foto?” mas contive-me.
O Rapaz devia ter por volta dos 14 anos e apresentava uma fraca figura. Usava um boné encarnado e tinha uma barba mal semeada de cachopo que ainda não tem paciência para a fazer. Apesar da fraca figura mostrava ser calmo e até um certo ponto introspectivo e... talvez curioso de mais para o meu gosto. Estaria eu enganado em relação a isso?
O espectáculo continuou cada vez mais intenso com um alinhamento daqueles que junta qualquer casal de namorados, mesmo os que estão chateados, num momento dos dois e o rapaz continuava ali sozinho. Num daqueles momentos em que calha olhar para o lado, voltei a ver o rapaz a olhar em seu redor e a sua mira acabou novamente em mim e na minha namorada… Naquele momento senti a minha garganta a preparar-se para se soltar mas foi travada após uma observação mais cuidada do pobre rapaz que tentando disfarçar, limpava as lágrimas que lhe escorriam pela cara. Afinal era um miúdo que sem maldade chorava um amor de liceu, que olhava em redor procurando entender o significado do amor, procurando uma explicação para não poder estar na mesma situação, procurando uma razão para não ser correspondido. Pobre rapaz! Afinal quem nunca teve um amor de liceu? E quem nunca sofreu por isso?
Senti-me mal naquele momento porque o miúdo, e não passava de um miúdo, com a vida toda pela frente e com tanto para presenciar e aprender, estava verdadeiramente a sofrer e não tinha qualquer intenção de estar a incomodar quem quer que fosse. Queira apenas explicações e uma resolução diferente para os seus sentimentos. Queria apenas um pouco daquilo que todos os outros que ali se encontravam tinham. Pobre rapaz solidão… tinha o seu coração encharcado de lágrimas como se tratasse de papelão…

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Bancos de Jardim

Ensaio sobre a preguiça

“Sim… afinal ainda estou vivo. Já passou um tempinho desde que deixei a blogosfera para caminhar uns tempos pela vida real, para absorver experiencias e vivencias na busca da inspiração que tanto trabalho dá a encontrar.”

Bem podia começar assim este post de renascimento mas na verdade não passo de um sacana preguiçoso e desleixado na minha essência criativa que não consegue arranjar outra desculpa para tamanha ausência. Se foi notada ainda bem, era essa a intenção. Apenas queria que a minha arte fosse libertadora da minha mente e em vez disso sentia-me aprisionado a algo que só pode ter uma vida libertina.

Hoje voltei a casa por isso à festa! Vamos buscar uns cigarros e talvez algo que nos ponha turvos.

terça-feira, 19 de maio de 2009

domingo, 26 de abril de 2009

Fã do grande artista da juventude perdida

Grande amigo, irmão e aventureiro de longas caminhadas… é sem dúvida merecedor de aparecer aqui no cantinho com especial destaque.






Um sorriso de felicidade por existires nestes caminhos.

terça-feira, 24 de março de 2009

Postal Roubado, Amor Desencontrado

Querida Ofélia,

Queria-lhe dizer que cheguei bem ao meu destino. Aproveito o telegrama para a informar que já falei com a Senhora Dona Emília aquando da sua visita e que o quarto de hóspedes estará à sua disposição na altura da primavera.
A senhora sabe que desejo muito a sua visita e que o meu coração vai palpitando até chegar o dia em que os nossos olhos se encontrarão de novo. A semana que passei com a senhora foi extraordinária.
No último dia no jardim desejei beijá-la da mesma forma como tínhamos feito todas as noites junto à fonte mas a presença do Senhor seu marido tornou impeditivo esse meu acto cobiçado.

Com um beijo cavalheiresco de despedida, e sofrendo a dor do amor, cá a espero em breve para que possamos tomar um chá junto às portas de Avis.

Sempre seu,

Fernando



Berenice
My hands and feet are worn
As much as yours are
And though my head, my hands, my heart are forming
They still feel worlds apart...

Cafeína

Sorriste para mim e sem demora convidaste-me para um café. O que não sabias era que eu era intolerante à cafeína.
Contei-te de um jeito quase infantil que não poderia aceitar pois a cafeína faz-me sofrer do coração e ele já não está habituado a caminhos cruzados entre chávenas com borras e colheres maleáveis. Agora bebo em copo cheio algo que não me amarga, que não me faz sofrer do coração.

Mr. Curiosity

domingo, 15 de março de 2009

Dias de Felicidade

Nos dias que correm nem sempre sei dar valor a certas coisas que só por si têm um valor inigualável. Esta semana foi marcante para mim, pois percebi que o tempo não faz pausas, e que devo valorizar e demonstrar o amor que sinto por determinadas pessoas essenciais à minha existência.
Sinto o tempo a passar e por vezes esqueço-me de esticar a mão e de demonstrar alguns sentimentos, não por não os sentir mas por crer que sou dono do tempo.

6/3 – 13/3 – Um beijo enorme de carinho e respeito à minha família e em especial para aqueles que mais amo… os meus pais.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Sent(e)i e escrevi

Ao lado do meu amor lembrei-me de escrever aqui um novo post. Enquanto ela me dizia que o meu ombro fazia barulho, eu pensava no meu intimo do quanto realmente e verdadeiramente gostava dela. É verdade e está patente no meu sorriso do quanto fantástico é partilhar este post, acompanhado por um belo copo de vinho tinto enquanto ela olha para mim e me dá um daqueles sorrisos que me deixam completo. É bonito voltar a encontrar o amor, e melhor ainda é quando sabemos que esse é o ponto de partida para um caminho de felicidade a dois.

Vamos sorrir juntos porque assim a vida tem mais sentido.

Adoro-te

Saudades do Verão

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Hate to Say I Told You So

"Foda-se meu! Eu avisei-te e tu nunca, mas nunca me dás ouvidos!"

"Morreste-me"

Em primeiro lugar quero pedir desculpa aos fiéis e verdadeiros seguidores aqui do cantinho pela minha já notada ausência mas outros compromissos de maior importância surgiram. Já vamos a meio de Fevereiro e o ano continua a correr com magia e fascínio. Tudo corre pelas mil maravilhas.
Estes meses iniciais têm trazido bastantes surpresas e um novo fôlego ao “caminho”.

Em fases de mudança damos por nós, por vezes a pensar no passado e apercebemo-nos, que por fim, há coisas que estão completamente encerradas. O sentimento de que algo nos “morreu” num sentido figurado é, inesperadamente óptima (alguns não compreenderão) e verdadeiramente libertadora.
Como em tudo, também no indivíduo, os acontecimentos são giratórios e regeneradores e quando algo nos morre, acabamos por ver algo nascer de uma forma mais harmoniosa, com uma força que nos agarra a nós próprios e que nos faz não ver( porque qualquer um vê) mas sim apreciar o encanto das sinfonias do dia-a-dia.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Batalhoz das Paixões Natalicias

Quando andava no secundário era tradição eu e um amigo meu ficarmos na escola até que já fosse noite cerrada. Gostávamos da sensação de sermos os últimos a sair daquele sítio e de podermos lá estar de noite a tocar algumas malhas e a conversar. Enquanto vagueávamos pelos corredores vazios, curtindo o silêncio que só era possível aquela hora, pensávamos cada um para seu lado nos nossos amores. Éramos os dois da mesma turma e tínhamos uma grande paixão por duas colegas de turma. Eu com uma miúda de aparelho e caracóis loiros e ele por uma miúda magra e morena.
Lembro-me especialmente de uma noite que ficámos, como de costume, até mais tarde na escola e de estarmos sentados os dois num banco que ficava em frente ao aquário a lamentarmo-nos da pouca sorte ao amor que tínhamos. Ficávamos ali a pensar, enquanto o meu colega criava na sua guitarra algumas músicas que escrevia para a amada.
Ao fim de umas horas saímos de lá com um sentimento de nostalgia fantástico e descíamos a rua toda enfeitada devido à época natalícia enquanto continuávamos as lamurias. Adorávamos a magia daquela rua! Era, sem sombra para duvidas, mágica e cumplice dos nossos pensamentos.
Era triste e desmotivante mas no fim de contas parecíamos gostar daquela sensação de aperto no coração que os amores improváveis nos davam porque, afinal de contas, eramos apenas dois adolescentes que queriam ter mais em que pensar do que em cafés e televisão.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Nada é impossivel

Hoje, enquanto via uns clips no youtube descobri a história de Tony Melendez. Este senhor é mais um exemplo de que nada é impossível e que com força de vontade, esperança e fé em algo, nem que seja em nós próprios, conseguimos realizar todos os nossos sonhos e objectivos.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Vida de Professor

As semelhanças com a realidade são puras coincidências.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Verão 1998

Eram dias longos e bonitos de amizade verdadeira… A seguir ao almoço juntávamo-nos todos na minha casa para passarmos a tarde a jogar ao maravilhoso e apaixonante FIFA WORLD CUP FRANCE 98. Através da janela do meu quarto ligava umas quantas fichas triplas para poder ter a televisão e a playstation no quintal e sentávamo-nos nas espreguiçadeiras em tronco nu a jogar incansavelmente e a sonhar com toda a magia do futebol.
Eram tardes cheias de alegria e de muito vicio que só paravam quando chegava a hora do lanche. A pausa era curta porque o pequeno televisor chamava por nós.
Quando chegava o fim da tarde lá descansávamos os olhos, deitados nas cadeiras a conversar. Muitas das vezes jantávamos juntos na pequena mesa do quintal e trocávamos sonhos de criança. Dizíamos muitas vezes que “em 2005 vou estar a trabalhar num banco” ou “em 2010 vou ser pai” e até “quando tiver 22 anos vou-me casar com a Cátia Mila” (LOLOL). Sonhos que passaram a histórias e que se tornaram recordações.
Aproveitávamos os jantares para ver o por do sol e algumas vezes, se estivesse calor, ainda levávamos um banho de mangueira que a minha mãe fazia questão de nos prendar.
A acompanhar aqueles dias todos estava uma coluna da aparelhagem a passar as músicas que davam na rádio. Lembro-me bastante bem de uma que estava na moda na altura e que ainda hoje gosto bastante.



Eram dias em que os nossos dedos saíam praticamente feridos mas as nossas almas saíam extasiadas.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Something New

Há uns dias atrás encontrei-me com um amigo e contei-lhe algumas novidades sobre mim que pensei que ele ia gostar de saber. Eu estava visivelmente feliz e tinha finalmente ultrapassado vários bloqueios que me estavam a fazer dar passos mais pequenos do que realmente devia ou merecia, e queria partilhar isso com alguém de confiança.
O novo ano quando chegou trouxe-me várias coisas boas pelas quais eu não esperava e como foram tão repentinas, ainda não tinha tido tempo para falar sobre elas a praticamente ninguém.
Após os meus felizes desabafos, o meu colega, surpreendentemente, reagiu de uma forma que foi para mim, no mínimo estranha. Disse-me que eu já não acreditava num projecto do passado, que estava a falhar perante os meus princípios e perante a minha palavra. Apesar de ele não ter razão, compreendo bem o que ele quis dizer, mas o que ele não entendeu foi que eu estava a caminhar por uma nova estrada, com uma paisagem bem mais bonita, com um destino que me poderá fazer feliz e com um propósito que me dará força e fôlego para ver para além de simples recordações. Afinal não compreendo qual será o prazer de estagnar e permanecer, com gosto, no mesmo local, perante os mesmos pensamentos e as mesmas imagens sem ter a ambição de procurar algo melhor.
A verdade é que procurei e encontrei. Mesmo o que não procurei veio ao meu encontro.
Agora estou bem porque acreditei que assim poderia estar. Não tive medo da mudança e acabei por receber os benefícios da esperança.
Não devemos ter medo dos caminhos que ainda não percorremos e devemos sempre dar uma oportunidade aos mesmos, pois não sabemos até que ponto eles poderão ser proveitosos para a nossa pessoa.
Desafiar o desconhecido pode ser tão tentador como descobrir um novo entardecer, um novo dia ou uma nova vida.

“Mais vale procurar a felicidade mesmo sabendo que ela pode demorar do que ficar sentado sem reacção no banco da tristeza.”

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

"Sapateando"

Ele era um singelo par de ténis de cor verde viva que revelava um estilo de vida rebelde e vivido. Gostava de caminhar pelas ruas do mundo e não perdia uma oportunidade para se divertir.
Ela era um bonito par de sapatos de salto alto que demonstrava uma vida bem mais calma e organizada. Passava o dia em reuniões mas ansiava pelo fim-de-semana para poder dançar até o dia nascer.
Um dia encontraram-se por acaso e caminharam juntos até que a tarde se foi e aproveitaram aqueles momentos para se conhecerem melhor e, também, para verem o que de mais belo existia um no outro apesar das diferenças patentes. Nessa noite dançaram juntos grandes músicas de rock e valsa e acabaram os dois a dormir, lado a lado, debaixo da mesma cama.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Idade da Inocência

Devia de ter os meus cinco anos quando, diariamente, a minha mãe me pedia para ir buscar o pão à velha padeira simpática que ficava no fundo da rua onde eu morava. Todos os santos dias, antes da hora de almoço, lá ia eu feliz da vida com o saco bordado à mão que a minha mãe guardava religiosamente na primeira gaveta do móvel da cozinha, buscar o pão que ainda quente fazia as minhas delicias antes do almoço.
Mas comer o pão com manteiga não era propriamente o acto que me mais fascinava nas manhãs daqueles tempos.
A padaria ficava no fim da rua e a proprietária, já de idade, tinha a trabalhar consigo a sua bonita filha que ao fundo da loja amassava o pão num movimento electrizante. Ela tinha por hábito usar um vasto decote que mostrava descaradamente o grande par de seios que sustentava, e eu ficava hipnotizado a olhar para aquela parelha de mamas a abanarem e sem saber porquê ficava feliz e com vontade de amassar a massa do pão.
Hoje sei o porquê daquela felicidade mas na idade da inocência quando o momento que mais gostava do dia era o de ir buscar o pão quente, tudo aquilo era novo e tinha um poder mágico aos meus olhos de criança.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Ficções Nhárras com João Rosa

O telefone tocou às 4:33 da manhã de domingo e do outro lado estava o João Rosa perdido de bêbedo a gritar que me queria no Rio de Janeiro na semana seguinte porque ele ia entrar de férias. Durante 10 minutos repetiu a ideia até eu ceder e lhe dizer que lá estaria.
Era Carnaval e realmente tive de concordar com ele que o Rio era o melhor local para passar aquela época festiva.
Passado a tal semana lá fui eu para a Portela apanhar o voo para o Aeroporto Internacional Galeão António Carlos Jobim. Eram 7 da manhã e a primeira coisa que fiz após o check-in foi comprar um grande volume de português Azul para que não nos faltasse bom tabaco durante a toda a semana e levei também um bom Bridão do Cartaxo para matar saudades dos nossos tempos de juventude.
Embarquei por fim e depois de um longo caminho a dormir lá aterrei eu no Rio onde estava um clima fantástico com uns belos 29 graus e com umas cores bem vivas em tudo o que me rodeava. Apressei-me a ir buscar a bagagem que por sorte vinha inteira e aproximei-me da porta de desembarques onde não vi o meu amigo. Peguei no meu telemóvel para lhe ligar quando senti alguém atrás de mim que me abraçou e fez com que o meu “celular” desabasse no chão desmontando-se todo às peças de tal forma que ficou imediatamente sem arranjo.
Virei-me e ali estava o João Rosa com um belo fato creme, com camisa e sapatos brancos e um bonito chapéu de cowboy de cor púrpura a esconder a imensa careca que lhe surgiu ainda nos verdes anos de juventude. Estava gordo como sempre e fumava um grande charuto dominicano.
Levou-me para o seu Jipe BMW X5 cedido gentilmente pela sua empresa de exploração animal e quando abri a porta de trás encontrei três belas brasileirinhas em biquini a beberem uns refrescantes Martinis brancos com 7up.
Fizemos a viagem até à sua quinta nos arredores sempre em grande folia com aquelas raparigas e falando nos nossos belos tempos de juventude em que comprávamos pernas de presunto que não aguentavam inteiras nem por uma noite e fumávamos grandes charutos. Ao chegar à fazenda, ele deu-me uns calções de banho para podermos usufruir da sauna e descontrair da viagem, e continuámos a nossa pequena festa privada.
À hora de jantar veio duas mulatinhas trazer-nos dois belos bifes mal passados com frutas que devorámos à beira da piscina ouvindo um forró de fundo. Bebemos o tal Bridão e acabámos a andar a cavalo pela fazenda enquanto conversávamos sobre a nossa juventude e aquelas passagens de ano na casa dele que acabava tudo perdido da vida à volta da fogueira.
Nos dias seguintes acordámos cedo apesar continuar a sentir um ligeiro cansaço da viagem e do pequeno jet leg. Viajámos pelas ruas do Rio, visitámos o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor, o Maracanã, o Parque Nacional da Tijuca, A Quinta da Boa Vista, O Jardim Zoológico, o Passeio Publico e algumas casas de diversão nocturnas. Comprámos roupas dignas dos mais belos “chulos” e oferecíamos bebidas às miúdas giras do Rio. Éramos reis e senhores daquele lugar a tal ponto que acabámos por ser ameaçados de morte por alguns namorados enfurecidos.
A meio da semana lá fomos nós para o recinto do Carnaval ver todas aquelas mulheres em roupas mínimas e curtir a galhofa de todo o espectáculo. O João para não variar acabou em tronco nu a saltar no meio de dois pares de seios avolumados enquanto enchia copos anónimos com cachaça e passava as mãos nos rabos morenos das jovens festejantes.
No final da noite deu-nos uma fome descomunal e acabámos mesmo por roubar uma pequena lambreta que mal podia com o peso dos dois. Descemos as ruas até um pequeno restaurante de comida portuguesa e comemos uma bela e leve sopa da pedra e uns rojões à moda do Minho para em seguida subirmos até à favela da Rocinha para irmos apostar uns reais nas lutas de galos. Perdemos uma imensa fortuna mas não nos importámos muito. Á saída estavam um grande grupo de missionários da Igreja Umbandista que nos levaram para um culto privado onde acabámos os dois por ter de fugir após o João ter partido a uma sanita. Voltámos a descer a rua e quando olhámos para o cartaz de um pequeno cinema vimos que naquela noite ia decorrer um concerto de uma banda que marcou a nossa juventude e não hesitámos em entrar.
Aquele concerto era mais que simples música, era uma lembrança da nossa geração, era um voltar ao passado e era um apelo à sobrevivência das memórias que tínhamos cagaço que desaparecessem.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Dancer in the Dark

Hoje à noite revi um dos filmes que eu considero uma das maiores obras-primas do cinema. Falo-vos do brutal e bárbaro mas melódico Dancer in the Dark com a fantástica actuação da Björk no principal papel. Já vi este filme cerca de 10 vezes e continuo a admirá-lo como na primeira vez, apesar de afirmar sempre que será a ultima vez que o vejo. Toda a história envolta na triste e mal fadada personagem de Selma advinha qual será o seu revoltante e cruel fim.

Aviso, desde já, os mais sensíveis que o vídeo que se segue pode ser perturbante e até chocante para alguns mas não deixa de ter a sua beleza cénica e uma mensagem de esperança.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O futuro é feito do agora

As coisas boas da vida acontecem-me sempre aos pares. Já há algum tempo que tinha pensado nisto e mais uma vez acabei por confirmar esta suspeita. Posso dizer que a minha sorte está a mudar e que a minha vida está a tomar um novo sentido bem mais feliz e positivo. O que eu realmente ainda não entendi é se os acontecimentos recentes da minha vida me estão a fazer ter uma visão mais positiva ou se foi a minha alteração da forma de como estou a ver o mundo que me está a trazer frutos. Sempre ouvi dizer que quando acreditamos nas coisas e que quando as vemos pelo seu melhor lado que tudo o que desejamos vem ao nosso encontro.
Simplesmente sei que desde que levantei a cabeça e tomei a decisão de sorrir que todo o meu mundo faz mais sentido e está bem mais belo. Agora é só pensar que o passado é passado e que o futuro é feito do agora.

Durante muito tempo senti falta desta energia e pensei que ela devia estar a chegar… agora sei que já chegou.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Apóstolo do alto astral

Sentámo-nos por fim depois de tanto andar nestes últimos dias e o empregado apressou-se a fazer o pedido. Para mim foi uma Corona Extra bem fresca com lima, como manda a tradição, enquanto que para ela foi uma simples mas sempre actual Coca-Cola. Enquanto conversávamos deparámo-nos com um indivíduo estrangeiro sentado numa posição pouco ortodoxa no canto da sala, com duas imperiais de 0,50 meio cheias em cima da mesa, completamente sozinho e embriagado até não poder mais. Esteve ali mais de meia hora a dormir no meio da confusão e da música barulhenta e apenas acordou quando ouviu o You Shook Me All Night Long. Levantou-se a cambalear, ergueu os braços no ar, cantou e dançou como se ninguém ali estivesse ou se importasse com o seu estado. No fim ainda olhou para mim esboçou um sorriso e levantou o copo num gesto de amizade para a minha pessoa. Isto fez-me pensar que realmente quando uma pessoa emana boas vibrações acaba por ter o retorno desse mesmo estado de espírito.
Toda aquela situação deixou-me verdadeiramente bem disposto e veio reforçar a minha ideia de querer levar a vida mais na boa. Afinal passo mais de metade da minha vida a preocupar-me com coisas que nunca aconteceram, que não acontecem e que não vão acontecer.
Apesar de não ser crente em nenhuma espécie de congregação religiosa sei que o meu “Deus” acaba sempre por me dar tudo o que eu quero.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Feliz Ano NovE

Acabadinho de chegar da primeira madrugada de 2009 não podia de deixar de criar um post a desejar um Feliz Ano “Nove” para todos os que por aqui passam.
Se há dias que eu odeio são o Natal e o meu Aniversário mas com a passagem de ano é diferente, tem outra magia, uma beleza intrínseca que mexe de certa forma comigo. Acredito que passar o ano é mudar um ciclo, é ter a oportunidade de começar qualquer coisa de novo, ter a oportunidade de esquecer amarguras do passado, de encerrar realidades que ficaram por resolver e de desejar ser melhor.
Teoricamente a passagem de ano não é nada mais nada menos que algo estabelecido pelo calendário para celebrar a rotação completa do nosso planeta pelo sol, mas na prática é uma capacidade de podermos colocar um ponto final numa etapa e, psicologicamente, entrarmos num novo período de crença em nós, nos outros e no global. Desta forma a entrada num novo ano faz com que as pessoas ganhem forças para enfrentar as adversidades e as glórias da vida de cabeça erguida e com um sorriso crédulo e cheio de positividade. É altura também de estudar as prioridades e agarrar novas oportunidades, porque como diriam os velhos sábios “ Quem espera sempre alcança” apesar de no meu caso ter sido algo parecido com “Quem espera, desespera.”.
Eu, como é tradição, lá comi as 12 passas a seguir à meia-noite para pedir os desejos de fim de ano e acredito que alguns deles vão ser ponderados pelo senhor que recebe os desejos de ano novo e se não for possível realiza-los todos pelo menos que faça com que o meu Sporting seja campeão… se não for pedir muito que ganhe a Champions também.

Vamos lá ao caminho porque este é o primeiro dia do resto das nossas vidas.



Desculpem se algo não faz sentido mas o grau de alcoolemia não permite mais.