segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Ficções Nhárras com Nélson Pikê!

Pus-me a caminho em Outubro de 1980 sem um tostão nos bolsos... Apenas tinha metade de uma sandes de queijo que comprei numa tasca da zona ribeirinha do Porto, poucas horas antes de embarcar num cargueiro no porto de Leixões. Meti-me apressado no primeiro contentor que me apareceu e tive a sorte deste estar cheio de garrafas de vinho do Porto e enchidos portugueses. Não sei ao certo quantos dias foram de viagem, sei apenas que nunca me faltou comida nem bebida.


Um dia ao espreitar por uma fenda do contentor consegui ver que estavamos atracados numa cidade que tinha sobre si um céu cinzento e manhoso e que não transmitia muita confiança. De qualquer das formas sai apressado para que ninguém me visse e corri com todas as forças que tinha. Quando consegui, por fim, afastar-me do barco e enquanto tentava recuperar as forças agarrado às pernas, levantei a cabeça e dei comigo em plena Liverpool, cidade berço dos grandes Beatles.


Era a minha primeira vez sozinho fora de Portugal e não sabia dizer uma palavra em Inglês mas não me fiz de menino e lá tentei comunicar com a primeira pessoa que me apareceu à frente em plena Mathew Street que foi um rapaz de grande porte com umas vestimentas de licra cor de rosa e umas plumas pretas ao pescoço e que tocava pandeireta ao mesmo tempo que assobiava e gritava uma melodia psicadélica. No meio da sua histeria ouvi-o a dizer algumas asneiras em portugês e entendi que ele, tal como eu, também era um tuga que havia fugido da vida que levava em Portugal. Nas horas que se seguiram conversámos e cantámos algumas músicas portuguesas para ganharmos alguns trocos para o jantar mas não foi fácil, pois ele quando as pessoas passavam começava a gritar.

Ao chegar da noite lá conseguimos comprar umas sandes de carne e uma cerveja de litro e fomos para uma casa abandonada que era o lar deste meu amigo. Lá ele explicou-me que fazia parte do movimento ocupa e que acreditava na anarquia como sistema.

Durante um mês vivi com o Nélson naquela casa e durante dias, já com o cabelo oxigenado e com alfinetes no nariz, andávamos pela rua a arranjar confusão com os agentes policiais, a roubar tudo o que conseguiamos por pura diversão, a fazermos sexo com prostitutas baratas... enfim, espalhado o terror!

Num dia ao acordámos vimos uns papeis que anunciavam um concerto de uma banda recente chamada Sex Pistols e decidimos ir, entrando pelas traseiras do Philharmonic Hall. No dia lá fomos e quando a banda começou a tocar ficámos consumidos pela violência e pelo alcool e iniciámos uma vaga de destruição e todo aquele local ficou destruido com a furia da malta anáquica. Ao sair ainda tivémos nos confrontos policiais onde o Nélson acabou por ser preso. Desde esse dia que não o vejo...

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